Skip to main content
Escrito por

José Saramago

José Saramago (Azinhaga, 1922-Tías, Lanzarote, 2010) es uno de los escritores portugueses más conocidos y apreciados en el mundo entero. En España, a partir de la primera publicación de El año de la muerte de Ricardo Reis, en 1985, su trabajo literario recibió la mejor acogida de los lectores y de la crítica. Otros títulos importantes son Manual de pintura y caligrafía, Levantado del suelo, Memorial del convento, Casi un objeto, La balsa de piedra, Historia del cerco de Lisboa, El Evangelio según Jesucristo, Ensayo sobre la ceguera, Todos los nombres, La caverna, El hombre duplicado, Ensayo sobre la lucidez, Las intermitencias de la muerte, El viaje del elefante, Caín, Claraboya y Alabardas. Alfaguara ha publicado también Poesía completa, Cuadernos de Lanzarote I y II, Viaje a Portugal, el relato breve El cuento de la isla desconocida, el cuento infantil La flor más grande del mundo, el libro autobiográfico Las pequeñas memorias, El cuaderno, José Saramago en sus palabras, un repertorio de declaraciones del autor recogidas en la prensa escrita, El último cuaderno, Qué haréis con este libro. Teatro completo y El cuaderno del año del Nobel. Recibió el Premio Camoens y el Premio Nobel de Literatura.

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

Traducir

Escribir es traducir. Siempre lo será. Incluso cuando estamos utilizando nuestra propia lengua. Transportamos lo que vemos y lo que sentimos (suponiendo que el ver y el sentir, como en general los entendemos, sean algo más que las palabras con las que nos va siendo relativamente posible expresar lo visto y lo sentido…) a un código convencional de signos, la escritura, y dejamos a las circunstancias y a las casualidades de la comunicación la responsabilidad de hacer llegar hasta la inteligencia del lector, no la integridad de la experiencia que nos propusimos transmitir (inevitablemente parcelada en cuanto a la realidad de que se había alimentado), sino al menos una sombra de lo que en el fondo de nuestro espíritu sabemos que es intraducible, por ejemplo, la emoción pura de un encuentro, el deslumbramiento de una descubierta, ese instante fugaz de silencio anterior a la palabra que se quedará en la memoria como el resto de un sueño que el tiempo no borrará por completo. El trabajo de quien traduce consistirá, por tanto, en pasar a otro idioma (en principio, al propio) lo que en la obra y en el idioma original y había sido ya ?traducción?, es decir, una determinada percepción de una realidad social, histórica, ideológica y cultural que no es la del traductor, substanciada, esa percepción, en un entramado lingüístico y semántico que tampoco es el suyo. El texto original representa únicamente una de las ?traducciones? posibles de la experiencia de la realidad del autor, estando el traductor obligado a convertir el ?texto-traducción? en ?traducción-texto?, inevitablemente ambivalente, porque, después de haber comenzado captando la experiencia de la realidad objeto de su atención, el traductor tiene que realizar el trabajo mayor de transportarla intacta al entramado lingüístico y semántico de la realidad (otra) para la que tiene el encargo de traducir, respetando, al mismo tiempo, el lugar de donde vino y el lugar hacia donde va. Para el traductor, el instante del silencio anterior a la palabra es pues como el umbral de un movimiento ?alquímico? en que lo que es necesita transformarse en otra cosa para continuar siendo lo que había sido. El diálogo entre el autor y el traductor, en la relación entre el texto que es y el texto que será, no es solo entre dos personalidades particulares que han de completarse, es sobre todo un encuentro entre dos culturas colectivas que deben reconocerse.



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
2 de julio de 2009

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

Agustina

Há uns quarenta anos, por espaço de alguns meses, exerci de crítico literário na ?Seara Nova?, actividade para a qual obviamente não tinha nascido, mas que a benévola generosidade de dois amigos considerou poder estar ao meu alcance. Foram eles o Augusto Costa Dias, que teve a ideia, e Rogério Fernandes, então director da (a todos os títulos) saudosa Revista. No geral, suponho não ter cometido injustiças graves, salvo o pouco cuidado com que opinei sobre ?O Delfim? de José Cardoso Pires. Muitas vezes, depois, me perguntei onde teria estado a minha cabeça naquele dia. Diz-se que um tropeção pode acontecer a qualquer, mas aquilo não foi um tropeção, foi (perdoe-se a vulgaridade da palavra) um estampanço. Quando, anos depois, com a preciosa ajuda de Jorge Amado na peleja, lutei a braço partido em Roma para que o Prémio da União Latina fosse atribuído a Cardoso Pires, é bem possível que estivesse a ser impelido, nas escaramuças argumentativas do júri, por essa penosa recordação do passado. E a competidora de Cardoso Pires era nada mais nada menos que Marguerite Duras? Há que reconhecer que os créditos com que eu tinha ido à apresentação na ?Seara Nova? não valiam grande coisa: havia publicado ?Terra do Pecado? em 1947 e ?Os Poemas Possíveis? em 1966. Nada mais. Não existia um só escritor em Portugal que não tivesse feito muito mais e muito melhor que o José Saramago. Compreendo que alguns tenham visto como uma petulância sem desculpa ter eu (um quase anónimo) decidido aceitar o convite dos meus imprudentes amigos. E isso foi, provavelmente, o que Agustina Bessa-Luís deve ter pensado quando, folheando a ?Seara Nova? (lia Agustina Bessa-Luís a ?Seara Nova??), deu de caras com uma crítica de um livro seu assinada por mim. Não a censurarei se o pensou, tanto mais que o seu ego pôde ter encontrado uma rápida compensação nas linhas que vinham logo a seguir. Cito de memória: ?Se há em Portugal um escritor que participe da natureza do génio, esse é Agustina Bessa-Luís?. Disse-o e repito-o hoje. É certo que mais adiante escrevia: ?Oxalá ela não venha a adormecer ao som da sua própria música?. Havia uma pontinha de malícia nesta observação? É possível, mas bastante perdoável, tratando-se de um crítico neófito à procura de um lugar próprio na praça literária? Adormeceu? Não adormeceu? Penso que não. Que alguns dos seus leitores tivessem desejado que Agustina, com a sua inesgotável liberdade de espírito (que a tinha) se lançasse por outros roteiros e outras aventuras literárias, é compreensível, mas aquilo que a Agustina mais parece ter interessado, a comédia humana de Entre-Douro-e-Minho, isso foi exemplarmente cumprido. Não é diminuí-la dizer que a vastíssima e poderosa obra de Agustina Bessa-Luís tem, entre todas as mais leituras, uma leitura sociológica. Cada um no seu terreno, cada um no seu tempo, cada um segundo as suas especificidades pessoais e artísticas, Balzac e Agustina Bessa-Luís fizeram o mesmo: observar e relatar. O século XIX francês compreender-se-á melhor lendo Balzac. A luz que irradia da obra de Agustina ajudar-nos-á a ver com mais nitidez o que foi a mentalidade de certa classe social no século XX. E também, já agora, a do final do nosso século XIX. Em verdade, em verdade, não era trabalho para alguém que tivesse adormecido?



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
1 de julio de 2009

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

Dois anos

A Fundação fez ontem dois anos. Como é costume dizer-se, parece que o tempo não passou. Se nos pusermos a traçar um balanço do que fizemos e do que sonhávamos, motivos não faltarão para afirmar que não tivemos um momento de descanso. Em primeiro lugar, a preocupação de decidir sobre o que melhor convinha à recém-nascida para que o passo seguinte que tivesse de dar fosse firme e futurível. Depois o trabalho de convencer os desconfiados de que não estávamos aqui para nos dedicarmos à contemplação do umbigo do patrono, mas para trabalhar em benefício da cultura portuguesa e da sociedade em geral. Não temos a pretensão de os haver feito mudar de ideias, nem então, nem agora, mas essa tarefa de esclarecimento público permitiu-nos levar as nossas ideias e as nossas propostas às pessoas de boa-fé, que felizmente não faltam neste país, por muito mal que dele se diga. A Fundação já pode apresentar uma folha de serviços, não só digna, mas prometedora. As obras da Casa dos Bicos, que visitámos há três dias, avançam com afinco, e é muito provável que em seis meses ou pouco mais tenhamos a chave na mão e possamos entrar livremente na casa que já é nossa, mas que o será muito mais quando estivermos em actividade plena. Queremos que o Campo das Cebolas faça parte dos itinerários habituais das pessoas para quem a cultura não é somente uma decoração superficial do espírito. Recordámos recentemente a obra e a vida de José Rodrigues Miguéis. O próximo, talvez em Janeiro do ano que vem, será Vitorino Nemésio. E depois Raul Brandão. As leis, tantas vezes injustas, da oferta e da procura no mercado das letras, demasiadas vezes têm feito com que grandes escritores do passado recente deixem de andar nas bocas do mundo. Tudo faremos para contrariar essa maléfica tendência. Temos muito trabalho por diante. Dois anos não são nada, mas a menina está de boa saúde e recomenda-se.



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
30 de junio de 2009

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

España negra

La España negra es el título de un libro del pintor José Gutiérrez Solana (1886-1945) de lectura a veces difícil y siempre incómoda, no por razones de estilo o de lo inédito de la construcción sintáctica, sino por la brutalidad del retrato de España que traza y que no es otra cosa que la transposición de su pintura para la página escrita, una pintura que ha sido clasificada como lúgubre y ?feísta?, en la que refleja la atmosfera de degradación de la España rural de la época, mostrada en cuadros que no retrocede ante la expresión de lo más atroz, obsceno y cruel que existe en los comportamientos humanos. Influenciado por el tenebrismo barroco, en especial por Valdés Leal, es también evidente la impresión que sobre él ejercieron las pinturas negras de Goya. La España de Gutiérrez Solana es sórdida y grotesca en el más alto grado imaginable, porque eso fue lo que encontró en las llamadas fiestas populares y en los usos y costumbres de su país. Hoy, España no es así, se ha convertido en un lugar desarrollado y culto, capaz de dar lecciones al mundo en muchos aspectos de la vida social, objetará el lector de estas líneas. No niego que puede tener razón en la Castellana, en las salas del museo del Prado, en el barrio de Salamanca o en las ramblas de Barcelona, pero no faltan por ahí lugares donde Gutiérrez Solana, si viviera, podría colocar su caballete para pintar con las mismas tintas las mismísimas pinturas. Me refiero a esas villas y ciudades donde, por subscripción pública o con apoyo material de los ayuntamientos, se adquieren toros a las ganaderías para gozo y disfrute de la población con motivo de las fiestas populares. El gozo y el disfrute no consisten en matar al animal y distribuir los filetes entre los más necesitados. Pese al desempleo, el pueblo español se alimenta bien sin favores de esos. El gozo y el disfrute tienen otro nombre. Cubierto de sangre, atravesado de lado a lado por lanzas, tal vez quemado por las banderillas de fuego que en el siglo XVIII se usaron en Portugal, empujado al mar para que allí perezca ahogado, el toro será torturado hasta la muerte. Los niños en brazos de las madres baten palmas, los maridos, excitados, palpan a las excitadas esposas y, en silencio alguna que no lo sea, el pueblo es feliz mientras el toro intenta huir de sus verdugos dejando tras de sí regueros de sangre. Es atroz, es cruel, es obsceno. ¿Pero eso qué importa si Cristiano Ronaldo va a jugar en el Real Madrid? ¿Qué importa eso en un momento en que el mundo entero llora la muerte de Michael Jackson? ¿Qué importa que una ciudad haga de la tortura premeditada de un animal indefenso una fiesta colectiva que se repetirá, implacablemente, al año siguiente? ¿Es esto cultura? ¿Es esto civilización? ¿No será simple barbarie?



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
29 de junio de 2009

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

Formación (2)

¿A dónde pretendo llegar con este plática? A la universidad. Y también la democracia. A la universidad porque deberá ser tanto una institución dispensadora de conocimientos como el lugar por excelencia de formación del ciudadano, de la persona educada en los valores de la solidariedad humana y del respeto por la paz, educada para la libertad y para la crítica, para el debate responsable de las ideas. Se argumentará que una parte importante de esa tarea pertenece a la familia como célula básica de la sociedad, sin embargo, como sabemos, la institución familiar atraviesa una crisis de identidad que la hace impotente ante las transformaciones de todo tipo que caracterizan nuestra época. La familia, salvo excepciones, tiende a adormecer la conciencia, mientras que la universidad, siendo lugar de pluralidades y encuentros, reúne todas las condiciones para suscitar un aprendizaje práctico y efectivo de los más amplios valores democráticos, empezando por el que me parece fundamental: el cuestionamiento de la propia democracia. Hay que buscar el modo de reinventarla, de arrancarla del inmovilismo de la rutina y de la descreencia, bien ayudadas, una y otra, por los poderes económico y político a los que le conviene mantener la decorativa fachada del edificio democrático, aunque nos vienen impidiendo verificar si por detrás de esa fachada subsiste todavía algo. En mi opinión, lo que queda, se usa, casi siempre, más para armar eficazmente las mentiras que para defender las verdades. Lo que llamamos democracia comienza a parecerse tristemente al paño solemne que cubre el féretro donde ya está descomponiéndose el cadáver. Reinventemos, pues, la democracia antes de que sea demasiado tarde. Y que la universidad nos ayude. ¿Querrá? ¿Podrá?



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
26 de junio de 2009

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

Formação (1)

Não ignoro que a principal incumbência assinada ao ensino em geral, e em especial ao universitário, é a formação. A universidade prepara o aluno para a vida, transmite-lhe os saberes adequados ao exercício cabal de uma profissão escolhida no conjunto de necessidades manifestada pela sociedade, escolha essa que se alguma vez foi guiada pelos imperativos da vocação, é com mais frequência resultante dos progressos científicos e tecnológicos, e também de interessadas demandas empresariais. Em qualquer caso, a universidade terá sempre motivos para pensar que cumpriu o seu papel ao entregar à sociedade jovens preparados para receberem e integrarem no seu acervo de conhecimentos as lições que ainda lhe faltam, isto é, as da experiência, madre de todas as coisas humanas. Ora, se a universidade, como era seu dever, formou, e se a chamada formação contínua fará o resto, a pergunta é inevitável: ?Onde está o problema?? O problema está em que me limitei a falar da formação necessária ao desempenho de uma profissão, deixando de lado outra formação, a do indivíduo, da pessoa, do cidadão, essa trindade terrestre, três em um corpo só. É tempo de tocar o delicado assunto. Qualquer acção formativa pressupõe, naturalmente, um objecto e um objectivo. O objecto é a pessoa a quem se pretende formar, o objectivo está na natureza e na finalidade da formação. Uma formação literária, por exemplo, não apresentará mais dúvidas que as que resultarem dos métodos de ensino e da maior ou menor capacidade de recepção do educando. A questão, porém, mudará radicalmente de figura sempre que se trate de formar pessoas, sempre que se pretenda incutir no que designei por ?objecto?, não apenas as matérias disciplinares que constituem o curso, mas um complexo de valores éticos e relacionais teóricos e práticos indispensáveis à actividade profissional. No entanto, formar pessoas não é, por si só, um aval tranquilizador. Uma educação que propugnasse ideias de superioridade racial ou biológica estaria a perverter a própria noção de valor, pondo o negativo no lugar do positivo, substituindo os ideais solidários do respeito humano pela intolerância e pela xenofobia. Não faltam exemplos na história antiga e recente da humanidade. Continuaremos.



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
25 de junio de 2009

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

Sabato

Quase cem anos, noventa e oito exactos, são os que hoje está cumprindo Ernesto Sabato, cujo nome escutei pela primeira vez no velho Café Chiado, em Lisboa, aí pelos remotos anos 50. Pronunciou-o um amigo que inclinava os seus gostos literários para as então mal conhecidas literaturas sul-americanas, ao passo que nós, os outros membros da tertúlia que ali nos reunia ao fim da tarde, pendíamos, quase todos, para a doce e então ainda imortal França, salvo algum excêntrico que se gabava de conhecer de cor e salteado o que nos Estados Unidos se escrevia. A esse amigo, que acabei por perder no caminho, devo a incipiente curiosidade que me levou a nomes como Julio Cortázar, Borges, Bioy Casares, Astúrias, Rómulo Gallegos, Carlos Fuentes, e tantos outros que se me atropelam na memória quando os convoco. E havia Sabato. Por um qualquer fenómeno acústico associei as três rápidas sílabas a um súbito golpe de punhal. Conhecido como é o significado desta palavra italiana, a associação haverá de parecer o que há de mais incongruente, mas as verdades são para se dizerem, e esta é uma delas. El túnel tinha sido publicado em 1948, mas eu não o havia lido. Nessa altura, com os meus inocentes 26 anos, ainda seria muito o pão e o sal que teria de comer antes de descobrir o caminho marítimo que haveria de conduzir-me a Buenos Aires? Foi aquele meu inesquecível companheiro de mesa de café quem me proporcionou a leitura do romance. Logo às primeiras páginas percebi até que ponto havia saído exacta a ousada associação de ideias que me havia levado de um apelido a um punhal. As leituras seguintes que fiz de Sabato, quer dos romances, quer dos ensaios, só viriam confirmar aquela minha intuição inicial, a de que me encontrava perante um autor trágico e eminentemente lúcido que, além de ser capaz de abrir caminho pelos corredores labirínticos do espírito dos leitores, não lhes consentia, nem por um só instante, que desviassem os olhos dos mais obscuros recantos do ser. Leitura por isso difícil? Talvez, mas leitura fascinante entre todas. A amálgama de surrealismo, existencialismo e psicanálise que constitui o suporte ?doutrinário? das ficções do autor de Sobre héroes y tumbas, não nos deveria fazer esquecer que este auto-proclamado ?inimigo? da razão que se chama Ernesto Sabato é à falível e humilde razão humana que acabará por apelar quando os seus próprios olhos se enfrentarem a esse outro apocalipse que foi a sangrenta repressão sofrida pelo povo argentino. Romances que se reportam a épocas historicamente determinadas e a lugares objectivamente definidos, El túnel, Sobre héroes y tumbas, Abbadón el exterminador não fazem ouvir somente o grito de uma consciência afligida pela sua própria impotência e a visão profética de uma sibila a quem o futuro aterra, também nos avisam de que, tal como Goya (mais conhecido como pintor que como filósofo?) já havia deixado constância na famosa gravura dos Caprichos: foi sempre do sono da razão que nasceu, cresceu e prosperou a inumana genealogia dos monstros. Querido Ernesto, é entre o temor e o tremor que decorrem as nossas vidas, e a tua não podia ser excepção. Mas talvez não se encontre nos dias de hoje uma situação tão dramática como a tua, a de alguém que, sendo tão humano, se nega a absolver a sua própria espécie, alguém que a si próprio não perdoará nunca a sua condição de homem. Nem todos te agradecerão a violência. Eu peço-te que não a desarmes. Cem anos, quase. Estou certo de que ao século que acabou se virá a chamar também o século de Sabato, como o de Kafka ou o de Proust.



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
24 de junio de 2009

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

Sastre

Conocí al dramaturgo Alfonso Sastre hace más de treinta años. Fue nuestro único encuentro. Nunca le escribí, nunca recibí una carta suya. Me quedó la impresión de un carácter áspero, duro, nada complaciente, que no facilitó el diálogo, aunque no lo hubiere dificultado. No volví a saber de él, salvo por ocasionales y poco expresivas noticias de prensa, siempre relacionadas con su militancia política en las filas abertzales. En las últimas semanas, el nombre de Alfonso Sastre volvió a aparecer como candidato cabeza de lista a las elecciones europeas, integrado una Iniciativa Internacionalista de reciente formación. La agrupación no obtuvo representación en el parlamento de Estrasburgo. Hace pocos días ETA asesinó al policía Eduardo Puelles con el casi siempre infalible proceso de bomba-lapa colocada en la parte inferior de los coches. La muerte fue horrible, el incendio carbonizó el cuerpo del infeliz, al que no hubo manera de acudirle. Este crimen suscitó en toda España un movimiento general de indignación. General, no. Alfonso Sastre acaba de publicar en el periódico vasco Gara un artículo amenazador en que habla de ?tiempos de mucho dolor en lugar de paz?, al mismo tiempo que justifica los atentados como parte de un ?conflicto político?, añadiendo que más atentados habrá si no se abre una negociación política con ETA. Casi no acredito en lo que leo. No fue Sastre quien fijó la bomba en el coche de Eduardo Puelles, pero lo que no esperaba era verlo como valedor de asesinos.



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
23 de junio de 2009

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

Regreso

Al elefante le gustó lo que vio y lo hizo saber a la compañía, aunque en ningún punto el itinerario que elegimos coincidiera con el que su memoria de elefante celosamente guardaba. Que habían, dijo, él y los soldados de caballería, subido hacia el norte casi pisando la línea de la frontera, por eso eran los caminos tan calamitosos. Comparado con el viaje de entonces, éste ha sido un paseo: buenas carreteras, buenos alojamientos, buenos restaurantes, el propio archiduque, pese a estar habituado a los lujos de la Europa central, se habría quedado sorprendido. La expedición era para trabajar, pero se disfrutó como si se anduviera de vacaciones. Hasta los sufridos cámaras, obligados a cargar con equipos de siete kilos al hombro, estaban encantados. Lo interesante es que ni nuestros amigos, ni los periodistas conocían los lugares que visitábamos. Mejor para ellos, que así se llevan mucho que contar y recordar. Comenzamos por Constancia, donde se cree que Camões vivió y tuvo casa, desde cuyas ventanas habrá visto mil veces el abrazo del Zêzere y del Tajo, aquel suave remanso de agua en el agua capaz de inspirar los versos más bellos. Desde allí fuimos a Castelo Novo para ver el Ayuntamiento, del tiempo de D. Dinis, y el chafariz, del de don Juan V, que le está pacíficamente adosado. Vimos también el lagar o lagariça, esa especie de cuba al aire libre para pisar las uvas, cavada en roca bruta en tiempos que se cree eran los de la prehistoria. Dormimos en Fundão, tierra de cerezas por excelencia, y a la mañana siguiente a Belmonte, donde nació Pedro Álvares Cabral, derechos a la iglesia de Santiago, de mi particular devoción. Ahí está una de las más conmovedoras esculturas románicas que existen en la faz de la tierra, una pietà de granito toscamente pintado, con un Cristo yacente sobre las rodillas de su madre. Junto a esta estatua, la célebre pietà de Miguel Ângelo que se encuentra en el Vaticano no pasa de un suspiro manierista. No fue fácil arrancar al personal de la extasiada contemplación en la que había caído, mas los conseguimos despegar con el señuelo del enigma arquitectónico de Centum Cellas, esa construcción inacabada cuya problemática finalidad ha sido y sigue siendo objeto de las más acaloradas discusiones. ¿Sería una torre de vigía? ¿Una hospedería para viajeros de paso? ¿Una prisión, aunque lo nieguen las rasgadas ventanas que subsisten? No se sabe. Saciado el hambre de imágenes, el destino siguiente sería Sortelha, la de las murallas ciclópicas. Allí nos cayó encima una tormenta como pocas, ráfagas de relámpagos, truenos que no iban detrás, lluvia a cántaros y granizo que era como metralla. No llegamos a tomar café, la corriente eléctrica se fue. Una hora tardó el cielo en escampar. Todavía llovía cuando entramos en el autobús, camino de Cidadelhe, sobre la que no escribiré. Remito al lector interesado y de buena voluntad para las cuatro o cinco páginas que le dediqué en Viaje a Portugal. Los compañeros se regalaron los ojos ante el palio de 1707, después fueron a ver la aldea, los relieves en las puertas de las casas, los cuadros da iglesia matriz con retratos de santos. Volvieron transfigurados y felices. Ahora sólo faltaba Castelo Rodrigo. El alcalde de Figueira de Castelo Rodrigo nos esperaba en el puente sobre el Côa, a poca distancia de Cidadelhe. De Castelo Rodrigo yo conservaba la imagen de hace treinta años, cuando fui por primera vez, una villa vieja decadente, en que las ruinas ya eran sólo una ruina de ruinas, como si todo aquello estuviese deshaciéndose en polvo. Hoy viven 140 personas en Castelo Rodrigo, las calles están limpias y transitables, las fachadas han sido recuperadas así como los interiores, y, sobre todo, ha desaparecido la tristeza de un fin que parecía anunciado. Hay que contar con las aldeas históricas, están vivas. He aquí la lección de este viaje.



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
22 de junio de 2009

Eder. Óleo de Irene Gracia

Blogs de autor

Em Castelo Novo

Há mais de 30 anos escrevi: Castelo Novo é uma das mais comovedoras lembranças do viajante. Talvez um dia volte, talvez não volte nunca, talvez até evite voltar, apenas porque há experiências que não se repetem. Como Alpedrinha, está Castelo Novo construído na falda do monte. Daí para cima, cortando a direito, chegar-se-ia ao ponto mais alto da Gardunha. O viajante não tornará a falar da hora, da luz, da atmosfera húmida. Pede apenas que nada disto seja esquecido enquanto pelas íngremes ruas sobe, entre as rústicas casas, e outras que são palácios, como este, seiscentista, com o seu alpendre, a sua varanda de canto, o arco profundo de acesso aos baixos, é difícil encontrar construção mais harmoniosa. Fiquem pois a luz e a hora, aí paradas no tempo e no céu, que o viajante vai ver Castelo Novo. Também escrevi sobre pessoas concretas há trinta anos: A uma velhinha que à sua porta aparece, pergunta o viajante onde fica a Lagariça. É surda a velhinha, mas percebe se lhe falarem alto e puder olhar de frente. Quando entendeu a pergunta, sorriu, e o viajante ficou deslumbrado, porque os dentes dela são postiços, e contudo o sorriso é tão verdadeiro, e tão contente de sorrir, que dá vontade de a abraçar e pedir-lhe que sorria outra vez. De José Pereira Duarte, uma das pessoas mais bondosas que conheci na minha vida escrevi que olha o viajante como quem mira um amigo que já ali não aparecesse há muitos anos, e toda a sua pena, diz, é que a mulher esteja doente, de cama: «Senão gostava que estivesse um bocadinho em minha casa.» Hoje estivemos com a filha e o genro de José Pereira Duarte, a velhinha já não está, mas outras pessoas amáveis apareceram em Castelo Novo e voltei a sair com o mesmo espírito de há trinta anos. Se o elefante Salomão por aqui passou, as pessoas que compunham a comitiva terão sentido o mesmo. Acolhimentos como estes não se improvisam.



[ADELANTO EN PDF]
Leer más
profile avatar
18 de junio de 2009
Close Menu